“Tive um câncer muito agressivo. O triplo negativo é aquele mais impactante, mais agressivo e que se desenvolve mais rápido, então, se não tratasse rápido, eu não estaria aqui”.
Joana Jeker
Uma história sobre
Recomeçar
Joana Jeker descobriu o câncer de mama aos 30 anos de idade em 2007. Ela não sabia, mas a partir daquele momento sua vida se tornaria um marco na jornada de milhares de mulheres que enfrentam a mesma doença.
Após passar por um tratamento na Rede Pública de Saúde, Joana ansiava pela cirurgia de reconstrução mamária que só aconteceu após angustiantes 2 anos de espera. Cinco meses após a primeira cirurgia, ela deveria passar por outra, mas foi informada de que o procedimento foi cancelado devido à falta de dreno. Mesmo debilitada, Joana fez todos os esforços possíveis junto à direção do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) para que a sua cirurgia acontecesse, no entanto, seus apelos foram em vão.
As cirurgias eram frequentemente canceladas devido à falta de médicos auxiliares, anestesistas e materiais básicos como drenos e fios de sutura. Até o cirurgião plástico Dr. Edmilson Lúcio da Silva, responsável pela reconstrução da mama de Joana na época, deixou de realizar cirurgias no HRAN devido à constante escassez de pessoal e materiais.
Diante do desamparo vivenciado pelas pacientes mutiladas, Joana tomou uma atitude corajosa: conduziu uma pesquisa sobre os direitos das mulheres mastectomizadas e, em fevereiro de 2010, elaborou um abaixo-assinado solicitando a ampliação da oferta de cirurgias de reconstrução mamária no HRAN. Durante cerca de 3 meses, coletou 123 assinaturas, a maioria de mulheres mastectomizadas. Levou o abaixo-assinado à direção do HRAN, à ouvidoria da Secretaria de Saúde, à ouvidoria do Ministério da Saúde e ao Ministério Público.
Marcando uma geração
Apesar de seus esforços incansáveis, nada mudou. Diante de tantas tentativas infrutíferas, Joana recorreu ao que considerava ser a única alternativa: organizar uma manifestação em frente ao HRAN. Ela convocou a mídia, pacientes e familiares. O ato atraiu a atenção das emissoras de TV como a Globo, SBT e Record, além de jornais e portais de notícias. A manifestação foi destaque na capa do jornal Correio Braziliense de 21 de dezembro de 2012 e na reportagem principal do telejornal Bom Dia DF. Ao assistir a manifestação, membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) se sensibilizaram e ofereceram apoio à causa, resultando na organização de um mutirão para realizar cirurgias de reconstrução mamária em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Na época, 165 mulheres finalmente puderam recuperar a dignidade por meio de cirurgias realizadas na Rede Pública de Saúde do DF.
Articulação em prol da saúde
Devido à sua atuação como articuladora social em favor das mulheres mastectomizadas, Joana reconheceu a necessidade de uma Lei Distrital e de um Decreto que regulamentassem a oferta de cirurgias de reconstrução mamária pelo SUS no DF. No início de 2011, Joana procurou diversos parlamentares solicitando a criação de uma Lei que atendesse às centenas de mulheres que ainda aguardavam a cirurgia. Com o apoio de alguns deputados, a dedicação de Joana Jeker resultou na sanção do Projeto de Lei 273/11 em 16 de fevereiro de 2012, através da Lei Distrital 4.761/12. Essa lei estabelece a obrigatoriedade da Cirurgia Plástica Reparadora da mama nos casos de mutilação decorrente do tratamento de câncer.
“A conquista da Lei foi um marco extremamente importante, mas eu sabia que não era o suficiente. Uma mulher com câncer precisa de apoio, orientação e, especialmente, que seus direitos sejam respeitados.” – Joana Jeker”.
Ciente de sua responsabilidade nessa jornada, em agosto de 2011, Joana fundou a Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília, a Recomeçar. Seu objetivo principal é ajudar as mulheres a reconstruírem não apenas suas mamas, mas também suas vidas, por meio de um atendimento rápido, gratuito e digno. Desde o início, o trabalho da Recomeçar se baseia em garantir o direito à reconstrução mamária pelo Sistema Único de Saúde – SUS, assegurado pela Lei Federal nº 9797, de 6 de maio de 1999.